Gondizalves, em Braga, assistiu hoje a uma viagem no tempo. Foi no tanque do Meirinho, situado na Rua de Cid, que decorreu mais uma sessão da iniciativa “Memórias do Tanque” que permite recordar tradições do passado, assim como recuperar o património coletivo em torno da água.
Este projeto é organizado pela Fundação Bracara Augusta, em parceria com a Agere, as Uniões e Juntas de Freguesias e a Universidade do Minho.
Carolina Teixeira, presidente da União de Freguesias de Ferreiros e Gondizalves, enalteceu a realização do “Memórias do Tanque” que, além de recuperar tradições, ajuda a preservar o património. “Existem imensos lavadouros, tanques e fontanários e para nós é gratificante a realização desse projeto de requalificação porque podermos recuperar parte desse património. Efetivamente há muita gente que tem as memórias do tanque, assim como eu as tenho porque também fui utilizadora desses equipamentos, mas também ainda há pessoas que ainda usam os tanques hoje em dia“, disse a autarca.
A presidente falou que a manutenção dos tanques é feita pela Junta de Freguesia uma vez que estes equipamentos fazem parte do património das freguesias.
Miguel Bandeira, presidente da Fundação Cultural Bracara Augusta, sublinhou que o projeto “Memórias do Tanque” tem como ponto central a recuperação da memória em volta dos tanques de lavagem, num tempo em que não havia abastecimento de água ao domicílio. “Antigamente os tanques e os chafarizes eram locais de encontro da população e, por outro lado, há uma componente patrimonial do ponto de vista arquitetónico”, referiu.
Miguel Bandeira realçou os trabalhos “notáveis” de pedraria, de condução e captação de águas que “importam preservar” e, por outro lado, o património ambiental porque a água é “um dos bens fundamentais do nosso modo de viver coletivo, da nossa natureza individual, enquanto seres porque somos essencialmente constituídos por água”. Recuperar a água hoje é um desígnio e um dever de todos nós. Ao centrarmos a recuperação da memória dos tanques de lavagem de antigamente estamos a preservar a água como um bem ambiental e essencial”, sustentou o presidente da Fundação Cultural Bracara Augusta.
Maria Gomes, lavadeira de tanque há 46 anos, confessou ter saudades dos tempos em que todas se juntavam para lavar a roupa e conviverem. “Antigamente não havia outra coisa e a gente vinha para aqui e aproveitávamos para lavar a roupa, mas também falávamos com as amigas e com os vizinhos. Tenho muitas saudades desses tempos”, disse
Por sua vez, a lavadeira Rosa Ferreira confessou que tem um tanque em casa, mas prefere ir para o tanque público, e Emília Pinto não escondeu as saudades dos tempos antigos em que lavava a roupa de toda a família e punha-a “a corar ao sol”.
O “Memórias do Tanque” contou com a participação de lavadeiras, do grupo Teatro do Adeus de Ferreiros e das crianças do 4.º ano da Escola Básica de Gondizalves.
Esta sessão contou também com a presença de Rui Morais, presidente do Conselho de Administração da AGERE, e de Raúl Gomes, tesoureiro da União de Freguesias de Ferreiros e Gondizalves.