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Investigador da Universidade do Minho vence Prémio Grémio Literário

José Manuel Lopes Cordeiro

O historiador José Manuel Lopes Cordeiro, da Universidade do Minho, recebe na terça-feira, 29 de junho, o Prémio Grémio Literário 2020, pelo seu livro “1820. Revolução Liberal do Porto”. A cerimónia realiza-se às 19:00, no Grémio Literário de Lisboa.

Esta entidade criada há 175 anos atribui o prémio anualmente a obras originais de autores portugueses na área das letras, artes e ciências. O galardão consiste numa escultura de José de Guimarães e, no passado, foi entregue a nomes como o cineasta Manuel d’Oliveira e o sociólogo David Justino.

“É uma honra receber este prémio, é o reconhecimento do meu trabalho de muitos anos nesta área”, diz Lopes Cordeiro. Em janeiro, “1820. Revolução Liberal do Porto” já tinha sido eleito o melhor livro em História Contemporânea Portuguesa publicado em 2020, pelo blogue “Almanaque Republicano”. A obra tem 536 páginas, 202 ilustrações (muitas inéditas) e novas revelações sobre a primeira tentativa de implantação do liberalismo em Portugal.

O autor parte da exposição homónima que organizou no ano passado na Casa do Infante, no Porto, mas vai além do mero catálogo da mostra. Aí se incluem os principais antecedentes da revolta: a ida da corte para o Brasil em 1807; a invasão napoleónica do Porto e o desastre da Ponte das Barcas em 1809; a criação pelo príncipe regente D. João do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 1815; a conspiração de 1817 e a execução do general Gomes Freire de Andrade, que acicatou a revolta contra a presença inglesa e do marechal Beresford; e a constituição da associação secreta Sinédrio, no Porto, para organizar a revolução.

A obra, editada pelo Município do Porto, destaca em especial as fontes locais daqueles 40 dias que abalaram a História de Portugal e do Brasil há dois séculos. Por exemplo, a ata da Câmara Municipal de 24 de agosto de 1820, cujo texto está coberto com tinta preta, uma iniciativa dos partidários de D. Miguel após a reviravolta absolutista. “O pronunciamento militar fez-se às 5 da manhã no Campo de Santo Ovídio (hoje Praça da República) e às 8 horas estava toda a gente na Câmara, onde se aprovou a constituição da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, que inaugurava um novo regime”, explica. O professor do Instituto de Ciências Sociais da UMinho ficou algo surpreso que o documento estivesse historicamente quase esquecido, apesar de então transcrito na imprensa local, divulgado em panfletos e republicado em jornais de Lisboa quando a capital aderiu ao movimento.

A vitória definitiva do liberalismo foi em 1834, com a derrota miguelista na guerra civil, após o fracassado cerco do Porto, ainda que a referida exposição só tenha ido até 4 de julho de 1821, quando o rei desembarcou em Lisboa. “Estavam cumpridos os principais objetivos: o rei e a corte regressaram ao país, a influência inglesa nos meios militares tinha terminado e já havia um documento provisório da Constituição”, observa o investigador.

Nota biográfica

O portuense é professor aposentado da Universidade do Minho, investigador do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS), presidente da Associação Portuguesa para o Património Industrial, diretor do Museu da Indústria Têxtil da Bacia do Ave, diretor da revista “Arqueologia Industrial” e membro do board do Comité Internacional para a Conservação do Património Industrial, organismo consultor da UNESCO. Está ainda no conselho editorial de quatro revistas internacionais e soma 10 livros e mais de 50 artigos científicos publicados, sobretudo sobre História política e arqueologia industrial. Foi também diretor do Museu da Ciência e Indústria do Porto, responsável nacional do projeto do Conselho da Europa “Itinerários Culturais Europeus: As Rotas do Têxtil” e, entre outros, colaborou no “Dicionário de História de Portugal”, coordenado por António Barreto e Maria Filomena Mónica.

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