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BragaBraga: Presépio Movimentado do Mosteiro de Tibaes é inaugurado no sábado

Braga: Presépio Movimentado do Mosteiro de Tibaes é inaugurado no sábado

© Comissão de Festas do Menino Jesus

O Presépio Movimentado do Mosteiro de Tibães, em Braga, vai ser inaugurado no próximo sábado, dia 25 de dezembro. Organizado pela Comissão de Festas do Menino Jesus, o Presépio Movimentado é de entrada livre e poderá ser visitado até 16 de janeiro.

O presépio surgiu há cerca de 80 anos. Segundo os testemunhos conhecidos, o primeiro presépio movimentado foi construído nos inícios da década de 40, cerca de 1943. Era nessa altura ainda bastante simples, movido à manivela por imitação de um outro presépio, já existente, numa freguesia vizinha.

Na procura da imitação do real tudo era coberto, como ainda hoje, pelo musgo, tão diferente dos cenários originais de Belém, mas tão típico destas regiões húmidas do norte do país. A água, cuja inexistência é inimaginável no norte, que faz mover o moinho e entretém o pescador. Nestes cenários percebemos a paisagem próxima desta região. De igual modo, as cenas do quotidiano poderiam ser encontradas nos ofícios tradicionais e nas figuras típicas da região: o serrador, o moleiro, o lenhador, o carpinteiro, o forjador, a mulher que vai buscar água ao poço, a lavadeira, o padeiro, a tecedeira.

Os primeiros bonecos, ainda muito rudimentares, eram movidos lateralmente em relação ao público.

No início da década de 50, com a entrada na comissão de um novo elemento, filho dos caseiros do Mosteiro, houve um melhoramento na movimentação dos bonecos. Começaram a ser articulados na cintura e nos braços, apresentando por isso movimentos mais perfeitos. Construídos em pinheiro manso. Nessa altura introduziu-se também na cena da Adoração dos Pastores e nos Reis Magos o movimento circular improvisando a cidade de Belém.

O presépio foi-se mantendo sem grandes alterações até meados da década de 80, altura em que houve entrada de novos elementos na Comissão de Festas. De acordo com testemunhos destes novos elementos foi este novo grupo que “radicalizou” o presépio. Tudo foi alterado, desde a estrutura, com a introdução de uma nova cambota, até às personagens e cenários. Basearam-se em livros, nomeadamente a Bíblia, em banda desenhada, tentando recriar de modo mais rigoroso a época e o local do Nascimento. Os bonecos, já muito degradados foram substituídos por outros de menor tamanho, mais pormenorizados e com vestimentas apropriadas à época. Embora tivessem sido mantidas e copiadas muitas das cenas originais, outras foram enriquecidas ou criadas de novo, como os meninos no baloiço, a lavadeira, o rachador e o ferrador. E outras desapareceram, caso da matança dos inocentes, cena não movimentada e por serem figuras com vestes de pano. Estas alterações, tal como foi referido, não se limitou às personagens, estendeu-se ao cenário com a criação de novas casas e a preocupação pelas noções de perspetiva, surgindo Belém em primeiro plano e Jerusalém como cenário de fundo.

A cena principal, a do Nascimento é composta por bonecos de barro a quem se consegue imputar o movimento da inclinação de Nossa Senhora e de S. José sobre o Menino. A este movimento junta-se um outro, o circular, da Adoração dos pastores.

O presépio começou por ser construído no interior da Igreja, numa das laterais mas exigências dos responsáveis da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais levaram a que fosse montado no exterior da igreja. Primeiro na portaria principal do Mosteiro, depois no claustro e em 1993 mudou-se para as Cavalariças. À cerca de 10 anos começou a ser construído na antiga adega e lagar do Convento.

Todos os elementos envolvidos e os que já estiveram ligados à construção do presépio, guardam como segredo o seu funcionamento, não permitindo a desmistificação deste pequeno universo.

A organização da Comissão de Festas surgiu só no início da década de 50, pelo presidente, secretário, subsecretário, tesoureiro, mordomos e mordomas, totalizando cerca de 12 elementos. Aos mordomos competia a recolha do musgo, das heras e dos ramos de sobreiro, assim como a realização de peditórios. Nestes peditórios transportavam à cabeça, pela freguesia, um saco para a recolha do milho ofertado. Atualmente tanto os mordomos e o cargo de subsecretário estão extintos.

A listagem das pessoas que integram a comissão de festas do ano seguinte é lida pelo padre no final da missa de Reis em Janeiro. A seleção dos vários elementos era efetuada por aqueles que se encontram em funções, recaindo muitas vezes, sabiamente, a escolha sobre aqueles que teceram, nesse mesmo ano, as maiores críticas ao presépio. Atualmente, devido à falta de novos elementos, a comissão repete-se de ano para ano mudando as funções dentro do grupo, quando há novos elementos, estes juntam-se aos festeiros já existentes.

Diz o povo que “quem quiser saber se o homem é tolo ou não, é colocar a corda do sino na mão”, sempre coube aos elementos da Comissão de Festas esse desafio. Tocam o sino por volta das 6h da manhã no dia da festa, 25 de dezembro, quando a construção é finalizada. Antigamente os elementos só paravam de tocar quando conseguissem que o sino grande desse uma volta sobre si mesmo, coisa que atualmente não é possível devido às condições degradadas do suporte desse mesmo sino.

As competências da Comissão não se limitam à montagem do presépio, que se inicia no mês de setembro, mas abarca a organização das festividades natalícias. Organiza peditório e emite cartões à população da freguesia a fim de cobrirem as despesas inerentes à festa do presépio nomeadamente o pagamento das vestes para as novenas antes do Natal e da missa de Reis, foguetes, altifalantes e materiais para a construção do presépio. Outrora, devido aos poucos recursos destas gentes do campo, as oferenda ao presépio eram feitas em géneros agrícolas, vendidos no final e cujas receitas serviam para pagar as despesas da mesma construção.

As representações do tema do Nascimento e da Adoração dos Pastores fazem-se ainda ao vivo em todas as celebrações religiosas desde o Natal até à missa de Reis. Missa em que se faz uma encenação a recriar a viagem dos Reis Magos, até ao lugar onde nasceu o Menino Jesus, viagem essa atribulada pelo Rei Herodes.

Antigamente a festa do Menino Jesus, em Tibães, era uma autêntica romaria, ia o povo pelos montes e das povoações vizinhas, da Pousa, da Graça, de Cabreiros, à Missa do Nascimento e visitar o presépio.

Os jovens que integram a comissão são, e sempre foram, rapazes entre os 16 e sensivelmente os 27 anos. São estes jovens e outros que já foram jovens e fizeram parte do grupo de então, que teimam em manter viva a tradição, não a deixando esmorecer, atualizando-as e adotando-as ao gosto dos elementos do grupo.

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