O Dia Mundial Sem Tabaco é uma iniciativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) e é comemorado todos os anos a 31 de maio com a intenção de consciencializar sobre os efeitos prejudiciais do seu uso e da exposição a fumo passivo.
Historicamente, o tabaco era utilizado em algumas culturas como parte de cerimónias tradicionais e, desta forma, o seu uso era pouco frequente e pouco difundido. No entanto, desde o início do século XX, o aumento da capacidade de produção em larga escala de produtos baratos e fortemente promovidos pelos meios de comunicação e publicidade fez disparar o seu consumo. Assim, fumar tornou-se frequente no século passado e, consequentemente, assistimos a aumentos substanciais na prevalência de doenças induzidas pela sua utilização décadas depois.
Mais de um bilião de pessoas fumam e pelo menos metade morrerá prematuramente de complicações relacionadas com o tabaco. Atualmente estima-se que ocorre uma morte associada ao tabagismo aproximadamente por cada 0,8-1,1 milhões de cigarros fumados, sugerindo que é responsável por mais de 7 milhões de mortes por ano e, de acordo com dados da OMS, cerca de 1,2 milhões de mortes por exposição ao fumo passivo. Em Portugal, de acordo com os dados do último Inquérito Nacional de Saúde de 2019, 16,8% da população residente em Portugal continental com 15 ou mais anos era fumadora e, de acordo com o Institute for Health Metrics and Evaluation, em 2019 morreram em Portugal mais de 13.500 pessoas por doenças atribuíveis ao tabaco.
O tabaco prejudica quase todos os órgãos e é um fator de risco importante para desenvolvimento de neoplasias. Embora a nicotina em si não cause cancro, pelo menos 69 substâncias químicas presentes no fumo do tabaco são cancerígenas (alcatrão, cádmio, chumbo, polonio 210, carbono 14, entre outras) e o tabagismo é responsável por pelo menos 30% de todas as mortes por cancro. Associa-se a 80-90% de todos os casos de cancro do pulmão e também é fator de risco para muitas outras neoplasias como boca, faringe, laringe, esófago, estômago, pâncreas, colo do útero, rim, bexiga e leucemia mieloide aguda.
O consumo de tabaco também causa doenças pulmonares, como bronquite crónica e enfisema, pode exacerbar os sintomas de asma em adultos e crianças e aumenta a suscetibilidade a infeções respiratórias.
No que diz respeito à doença cardiovascular, o tabaco aumenta substancialmente o seu risco, nomeadamente de acidente vascular cerebral, doença coronária, doença vascular periférica e aneurismas. A doença cardiovascular é responsável por 40% de todas as mortes relacionadas com o tabagismo. Segundo o relatório de 2023 da World Heart Federation, é responsável por 3 milhões de mortes anualmente.
O tabagismo está ainda associado a muitas outras condições de saúde, tais como a artrite reumatoide, inflamação, compromisso da função imunológica e infertilidade masculina. Estudos experimentais recentes também identificaram uma associação ao risco de desenvolver diabetes tipo 2.
O tabagismo é um dos principais determinantes de morbilidade e mortalidade evitáveis e responsável por redução significativa na qualidade de vida. Parar de fumar resulta em benefícios de saúde imediatos. As estatísticas de sobrevivência indicam que parar de fumar resulta na reparação de grande parte dos danos pulmonares induzidos pelo fumo do tabaco ao longo do tempo e, consequentemente, parte ou toda a esperança de vida perdida pode ser recuperada.
Por tudo isto, pela sua saúde e pela saúde de todos, não fume!!!
Artigo de opinião de Rodrigo Leão, assistente Hospitalar de Medicina Interna no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central.