A dor crónica afeta um terço da população portuguesa e é transversal à prática médica. Sabemos ainda que cerca de 20 a 40% de pessoas com patologia neurológica primária são afetadas por doença crónica, o que pode contribuir gravemente para a diminuição da qualidade de vida das pessoas com doença neurológica.
A dor pode ser classificada como neuropática, quando tem origem no sistema nervoso (central ou periférico), ou nociceptiva, quando está associada a lesão de outros órgãos. Dependendo do tipo de doença neurológica é possível encontrar um ou outro, ou por vezes ambos os tipos de dor. Por exemplo, em doenças como Esclerose Múltipla ou após um Acidente Vascular Cerebral (AVC), é possível existir dor neuropática de origem central; e nas doenças do movimento, como a Doença de Parkinson, a dor presente está mais associada à inflamação muscular e articular, ou espasmos musculares.
Em situações em que a presença de dor compromete a funcionalidade e qualidade de vida da pessoa ou de não existir resposta à medicação, deve ser procurada a ajuda numa consulta especializada no tratamento da dor. Apesar de qualquer médico estar familiarizado com a medicação convencional para a dor, a manipulação e gestão de medicação com maior potência analgésica devem ser realizadas por um especialista nessa área.
O tratamento da dor inclui fármacos, técnicas minimamente invasivas e outras intervenções não farmacológicas, tais como o apoio psicológico, a fisioterapia ou a alteração no estilo de vida (por exemplo, uma alimentação mais saudável e variada ou a prática regular de atividade física).
Um dos desafios no controlo da dor das pessoas com doença neurológica é a baixa resposta ao tratamento, devido à presença de comorbilidades e à utilização de múltiplos fármacos. A intervenção precoce e uma abordagem multidisciplinar, contribuem para otimizar a eficácia do tratamento, potenciando, assim, a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas afetadas por doença neurológica.
Neste Dia Nacional da Luta Contra a Dor, assim como em todos os outros dias do ano, é fundamental reconhecer a importância do bem-estar de todas as pessoas. A dor deve ser valorizada em todo o tipo de doenças e diagnosticada o mais precocemente possível, por forma a poder dar-se início ao melhor tratamento. O objetivo é minimizar o impacto na qualidade de vida das pessoas que são afetadas por doença crónica. Esteja atento e não desvalorize qualquer tipo de dor!
Artigo de opinião de Pedro Branquinho, médico anestesista, responsável pela Consulta da Dor no CNS – Campus Neurológico.