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OpiniãoO património histórico-cultural de Braga está esquecido

O património histórico-cultural de Braga está esquecido

Artigo de Bruno Miguel Machado.

Bruno Miguel Machado © Iniciativa Liberal

Braga é uma cidade onde dois mil anos de história se manifestam em cada esquina, em cada obra, no quotidiano dos seus habitantes. Mas como tem sido tratado este legado pelos sucessivos executivos municipais nas últimas cinco décadas?

Durante os 37 anos em que Mesquita Machado liderou a autarquia, assistiu-se a um período negro para o património cultural da cidade. Foi um tempo de sistemática destruição ou abandono, marcado pela ausência de preservação das ruínas de Bracara Augusta, pela degradação e desaparecimento de troços da muralha medieval e pela demolição ou profunda descaracterização de vários solares bracarenses, em especial do século XVIII.

Em 2013, Ricardo Rio sucedeu a Mesquita Machado, inaugurando um novo ciclo político que começou com promessas ambiciosas de regeneração cultural e valorização do património. Contudo, passados doze anos, é evidente que a proteção e promoção do património histórico-cultural de Braga nunca foi uma prioridade deste executivo.

É certo que houve alguns avanços pontuais, como a reabilitação do Convento de São Francisco ou a musealização da Ínsula das Carvalheiras. Já em tempo limite, foi lançado o concurso para a reabilitação da Casa dos Crivos. Mas estes gestos tímidos não disfarçam o desinteresse geral por uma política cultural sólida e coerente.

Durante as últimas eleições autárquicas, a Iniciativa Liberal visitou a Torre de Menagem, encerrada na altura — e que permanece fechada até hoje, sem qualquer justificação. Muitos bracarenses desconhecem que ali existe uma exposição de ilustrações intitulada “Era uma vez uma cidade”, dedicada à história de Braga. Uma cidade com a ambição de se afirmar como capital cultural não pode esconder os seus próprios espaços históricos.

Outro projeto promissor que fica pelo caminho é a reabilitação do antigo Cinema São Geraldo, inaugurado a 1 de junho de 1950 como a primeira sala exclusivamente dedicada ao cinema na cidade. Este emblemático edifício foi erguido no local do antigo Salão Recreativo Bracarense, fundado em 1924 sobre os terrenos do extinto Convento dos Remédios. Hoje, continua à espera de se tornar no Media Arts Center.

Também a prometida valorização das ruínas de Santa Marta das Cortiças ficou pelo caminho. Ali jazem vestígios arqueológicos de enorme valor — desde um castro a uma basílica paleocristã, um palácio suevo e até um castelo medieval — que permanecem sem acesso ao público, ignorados por quem governa.

Em suma, Braga não pode continuar a ser gerida numa lógica de curto prazo, centrada em eventos efémeros e anúncios vistosos, enquanto se negligencia a herança que constrói a sua identidade.

Braga, cidade bimilenar, vive da sua história, do seu património e da sua alma. A cultura e o património não são luxos, nem adereços turísticos — são pilares da nossa identidade coletiva. A mudança é urgente e necessária: pelo passado, pelo presente e pelo futuro da nossa cidade.

Artigo de Bruno Miguel Machado, jurista e membro da Assembleia Municipal de Braga da Iniciativa Liberal.

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