Ser árbitro não é fácil. Comigo foram 20 anos, cresci no futebol, aprendi muito, conheci o país todo, mas sobretudo, entre colegas árbitros, jogadores a diretores e até adeptos, fiz bonitas amizades. No entanto, existe o outro lado: o desagrado com a arbitragem!
Nas últimas semanas veio a público uma notícia que dava conta que vários jogos do escalões de formação da AF Braga são arbitrados por equipas de arbitragem da AF Viana do Castelo. O Conselho de Arbitragem da AF Braga, numa nota enviada à imprensa, justificou que houve uma drástica diminuição de árbitros e por isso são forçados a recorrer a árbitros de “fora”, de forma a não ter que adiar jogos oficiais.
Então e o que aconteceu “à maior equipa de árbitros do país”?
Braga já foi designada como a Associação de Futebol com “a maior equipa de árbitros do País”, diziam as notícias na altura que eram 580 árbitros que pertenciam aos quadros da AF Braga, catalogando assim a nossa Associação como a “maior do país”.
Ao longo dos últimos anos os árbitros distritais são nomeados para 5 ou mais jogos por fim de semana, o que é claramente jogo a mais para decidir bem em todos eles e conciliar com a vida pessoal e profissional. A isto juntam-se os treinos, as formações e os testes obrigatórios. A tarefa é exigente. No entanto não é só pelos factos elencados que os árbitros mais jovens, que são aqueles hipotéticos que poderiam renovar a equipa, têm desistido após as primeiras apitadelas. Por outro lado os mais velhos ou menos jovens, também estão a abandonar de forma massiva a arbitragem. Uns dizem-se exaustos pela exigência da atividade, já outros pela prepotência de alguns dos nossos dirigentes.
A Associação de Futebol de Braga deveria repensar a sua forma de tratamento e de condições que proporciona aos árbitros, deveria existir um plano credível de retenção dos novos árbitros e valorizar os árbitros mais experientes. A experiência apita jogos, e talvez por falta dela que temos visto este início de campeonato distrital a ferro e fogo contra os árbitros bracarenses. Todos sabemos que metade delas é só para desculpar a falta de sucesso de algumas equipas, mas outras tem infelizmente alguma razão de ser.
Enquanto a Associação de Futebol de Braga olhar para os árbitros apenas como um mal necessário para arbitrar jogos, vão continuar a existir e cada vez mais e de forma intensificada as cartas de abandono dos árbitros da AF Braga.
Até lá, com uma tarefa árdua, resta ao Conselho de Arbitragem gerir os seus árbitros e a arbitragem da melhor forma possível, tentando reter o maior número de árbitros possível até ao final da presente época desportiva, salvaguardando sempre a integridade dos campeonatos distritais, quer de formação quer de seniores.
Eu continuo deste lado a torcer pela minha equipa, pelo sucesso dos meus, mas com melhores condições de trabalho.
Aproveitando a época festiva que se avizinha, desejo a todos os intervenientes futebolísticos uma excelente quadra festiva, num ano de 2022 repleto de saúde e muito sucesso.
Artigo de opinião de João Ricardo Silva, ex-árbitro de futebol.