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BragaLivro de contos e lendas de Timor-Leste lançado em Braga

Livro de contos e lendas de Timor-Leste lançado em Braga

Anabela Leal de Barros

O livro “Os Ovos de Ouro. Contos e Lendas de Timor-Leste” vai ser apresentado a 9 de dezembro, às 18:30, no Museu Nogueira da Silva, em Braga.

A obra é da autoria de Anabela Leal de Barros, professora da Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas da Universidade do Minho, e Manuel Gomes Araújo, presidente do Instituto Nacional de Formação de Docentes e Profissionais da Educação de Timor-Leste. Os comentários ao livro vão ficar a cargo de José Machado, escritor e professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e António Bárbolo Alves, investigador da mesma universidade e membro da Academia das Ciências. A sessão é promovida pelo Centro de Estudos Lusíadas e tem entrada livre.

Anabela Leal de Barros já lecionou em Timor-Leste, em licenciaturas e mestrados nos quais participou a UMinho, e a muitos timorenses na própria UMinho. Este é o seu quinto livro de recolha e estudo da literatura oral daquele país, após “Contos e Lendas de Timor-Leste” (2014), “Rumando de Lés a Leste” (2017), “O Galo do Oriente” (2018) e “A Rainha da Lua” (2019). Desta vez, a recolha das narrativas juntou alguns dos seus antigos alunos de mestrado timorenses, em especial Manuel Gomes Araújo. O resultado cifra-se em 37 contos, lendas e mitos, sobretudo da região de Bobonaro (junto à Indonésia), respeitando os significados e detalhes orais originais, embora com algum trabalho de redação, recuperação filológica e tradução.

Nas 145 páginas desta edição da Universidade de Macau, com apoio da Fundação Oriente, explora-se a origem sobrenatural da criação de caprinos, o motivo da inimizade entre galos e macacos, do pisoteio da terra pelos búfalos, do castigo físico após um roubo, bem como os mal-entendidos linguísticos do “casar até à morte”, a razão de ser do crocodilo como símbolo nacional, da água fria nos pés dos noivos ou a visão da enguia como dona da água. Na cultura local crê-se na transfiguração, como foca o conto que titula o livro: a galinha-do-mato torna-se menina, dá ovos de ouro e casa com o agricultor. Além disso, evoca-se o humor, as diferenças linguísticas, a economia de subsistência, o medo do ocupante (português, indonésio, japonês), a par dos tradicionais cantos, danças, trajes, cerimónias, alimentos, jogos e objetos, como o tais (tecido artesanal) para vestir em vida, para guardar como bem cultural e patrimonial ou para amortalhar defuntos. O livro inclui fotos de Anabela Leal de Barros e de Paulo Ribeiro.

“Iniciei em 2002 a recolha e edição da literatura de tradição oral nos 13 distritos de Timor-Leste e importa continuá-la com rapidez, para a riqueza destas estórias não se perder ou desvirtuar perante certos tabus e a globalização, mas também para que, nelas, possamos recolher e estudar o português timorense, preservando traços do português clássico e das línguas locais e regionais”, nota Anabela Leal de Barros. Por exemplo, a influência católica “tem levado a alterar ou silenciar” certos contos eróticos, de crenças locais ou de remotos casamentos consanguíneos. “Mudam-se narrativas para o que é agora entendido como mais razoável ou esquecem-se pormenores autóctones”, situa.

Para a perita em História da Língua, na Europa os contos e lendas locais “já não se perdem”, pois estão em grande parte publicados, mas em Timor este trabalho filológico de recuperação e preservação do património textual ancestral está por fazer e é fundamental para a criação de material didático de ensino-aprendizagem do português e para a defesa e consolidação da cultura e da identidade timorenses, frisa. Anabela Leal de Barros nasceu em Vila Real, em 1967, sendo na UMinho investigadora do Centro de Estudos Humanísticos e docente no Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos.

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