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OpiniãoCrescimento populacional em Braga: a que custo?
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Crescimento populacional em Braga: a que custo?

Rafael Pinto © PAN

Esta semana fizeram manchete os primeiros resultados dos censos 2021 que demonstram uma perda de população, ao nível nacional, de cerca de 2% sendo que quem mais perde são os concelhos do norte e interior. No entanto, nos últimos 10 anos, o número de pessoas a viver em Braga contrariou esta tendência e registou um crescimento de 6,5%. Em 2011, tínhamos 181.494 habitantes que são agora 193.333, mais 11.939 pessoas.

Estes números foram rapidamente usados como instrumento de marketing para demonstrar que Braga está a crescer, mas a realidade destes é mais sombria. Um aumento populacional não significa necessariamente melhores condições de vida para as pessoas que fazem do concelho a sua casa.

Desde logo, é preciso pensar em termos de sustentabilidade. Será que este aumento de população foi acompanhado por um aumento proporcional da biocapacidade do município? A biocapacidade, ou capacidade biológica, de um ecossistema é a estimativa da produção de recursos naturais do concelho em relação ao que se consome, isto é, tendo em conta que a população cresceu 6,5% e que isto aumenta a pegada ecológica do concelho, será que a capacidade de regeneração também aumentou? Houve essa preocupação ou planeamento? Parece-nos que não.

O exemplo mais claro da falta de planeamento  é o facto das emissões de gases com efeito de estufa, segundo o Relatório de Sustentabilidade, terem aumentado na generalidade e em particular na instalação de novas indústrias (+22%), nos processos industriais existentes (+49%) e nos transportes rodoviários (+17%).

Com a falta de aposta na mobilidade suave com a construção de ciclovias, na mobilidade pedonal com a humanização da cidade e nos transportes públicos, com aumento das linhas, não nos surpreende que a qualidade do ar tenha piorado e os engarrafamentos sejam cada vez maiores.

Na gestão de resíduos nos últimos 5 anos, a percentagem de pessoas abrangidas pela recolha regular manteve-se igual, 92%, tendo atingido um pico em 2017, com 96%, mas desde então voltou a cair. Também o acesso a contentores de reciclagem não aumentou, mantendo-se nos 56%. Dito isto, não é surpresa que a percentagem de resíduos recolhidos para reciclagem tenha caído dos 25% para os 21% (-4%).

E o tratamento de resíduos domésticos como esgotos? Se a ETAR de Frossos já se encontrava sub-dimensionada há mais tempo, com este crescimento a situação piorou tendo esta transformado o Rio Torto num esgoto a céu aberto e consequentemente causando grande poluição no Rio Cávado e destruindo ecossistemas.

Tendo em conta estes resultados ao nível ambiental, não ficamos surpreendidos quando percebemos que a despesa do município com o ambiente, segundo a PORTADA, tenha caído de 6% do orçamento anual em 2010, para apenas 2% em 2019.

E na habitação? Será que o número de novas habitações aumentou de forma proporcional à população, ao aumento de alunos no Ensino Superior e turistas que não são considerados residentes?

Segundo os dados da PORDATA, entre 2010 e 2019, o aumento do número de alojamentos familiares ficou-se pelos 3%. Tendo em conta um aumento populacional de 6,5%, aumento de estudantes de 11% e de turistas de quase 200% (medido em dormidas por cada 100 habitantes), não é de admirar que o valor médio das casas tenha aumentado 28% e que as rendas se tenham tornado inacessíveis.

Crescimento sim, mas nunca às custas da qualidade de vida no presente e das gerações futuras!

É preciso ter uma visão a longo prazo e é isso que queremos trazer para o concelho.

Artigo de opinião de Rafael Pinto, candidato do PAN à presidência da Câmara Municipal de Braga.

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