Desde o início do século XX que o desenvolvimento tecnológico tornou os meios complementares de diagnóstico e terapêutica em ferramentas essenciais para todas as áreas da medicina. Contudo, a comunicação continua a ser considerada o instrumento fulcral para os profissionais de saúde compreenderem o paciente e partilharem informação.
Em 2018 foi alterado o paradigma da comunicação em radiologia e acrescentado um elemento à comunicação entre profissionais e pacientes: a comunicação de risco radiológico.
O artigo 101.º do Decreto-Lei 108/2018, de 03 de Dezembro, na sua redação atual, que estabelece o regime jurídico da proteção radiológica, o qual transpôs a Diretiva 2013/59/Euratom, determina que nas informações a prestar ao paciente, está contemplado a transmissão de informação dos benefícios e riscos associados à radiação ionizante através de um consentimento informado e esclarecido.
A informação sobre radiação médica é um tema controverso, uma vez que os pacientes não vêm a radiação (esta não é facilmente mesurável), sendo que o risco de cancro induzido por radiação é baseado no risco populacional e não no risco para pacientes individuais.
Nem para alguns profissionais de saúde este tema é fácil de entender, dada à variedade de unidades de medida descritas e do jargão frequentemente utilizado.
Vários pacientes referem lacunas, imprecisões e ambiguidades na informação fornecida, afirmando que a comunicação da mensagem (base científica) deve estar relacionada com a credibilidade da fonte e com a utilização de canais percetíveis ao alcance do público alvo.
Os profissionais de saúde tendem a sobrestimar a literacia dos pacientes, no entanto, a comunicação em saúde deve estar adaptada às capacidades cognitivas, ao nível cultural/educacional, às representações e crenças de saúde, às necessidades individuais, emocionais, sociais, culturais e linguísticas do paciente.
Neste contexto, a comunicação verbal deve-se realizar num contexto especifico e num clima de confiança entre profissionais e pacientes, sendo valorizável as atitudes de sensibilidade, aceitação e empatia entre os sujeitos, nas dimensões da comunicação verbal e não verbal, bem como, o interesse pelo outro, a clareza na transmissão da mensagem em relação ao indivíduo e às situações, na sua singularidade e especificidade.
Todos os exames que utilizam radiação conferem um risco a longo prazo, sendo que o risco pode ser justificado em relação ao benefício. No caso da radiação esta é benéfica em muitos aspetos quando utilizada de forma adequada. O risco da não realização de um exame pode induzir a um diagnóstico erróneo ou a um tratamento tardio reduzindo a esperança média de vida geral do paciente.
A chave da comunicação em radiologia está no equilíbrio entre o risco da radiação e o benefício. O balanço deverá sempre em prol do interesse do paciente.
Artigo de opinião de Cláudia Machado, Técnica Superior de Diagnóstico e Terapêutica de Radiologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto e Membro da Comissão de Proteção Contra Radiações do Centro Hospitalar Universitário do Porto.