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Lorenzo Bordonaro vence prémio da dstgroup com escultura “Refúgio”

Lorenzo Bordonaro é o vencedor do prémio Arte em Espaço Público & Sustentabilidade, uma iniciativa inédita promovida pelo dstgroup e pela zet gallery com o apoio do IB-S – Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-Sustentabilidade da Universidade do Minho.

“Refúgio”, uma escultura habitável, foi assim a proposta eleita pelo júri do prémio que destacou “os itens de natureza estética e conceptual, nomeadamente a proposta de ligação da interioridade da peça com a atmosfera própria da cidade”, considerando a proposta do artista italiano a residir em Portugal como a que “melhor leu, interpretou e integrou símbolos patrimoniais e iconográficos da cidade de Braga”.

Constituído por Lídia Jorge (vencedora do Grande Prémio de Literatura dst de 2019), André Rangel (em representação da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto), João Castro Silva (em representação da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa), Tiago Miranda (diretor do IB-S – Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-Sustentabilidade da Universidade do Minho) e Ricardo Portela (em representação do dst group), o júri valorizou ainda “a possibilidade de integração de elementos da natureza e da paisagem na obra de arte, as suas mais valias enquanto ‘escultura habitada’ e a qualidade intrínseca do objeto do ponto de vista estético, bem como a capacidade de adaptação do artista aos materiais e às suas contingências, num esforço de resposta à emergência da economia circular e da sustentabilidade”.

As três propostas finalistas que estiveram em análise, nomeadamente “Boom: O Eterno Retorno”, de Inês Osório,  “Us trees”, de João Ó e Rita Machado e “Refúgio”, de Lorenzo Bordonaro, mereceram o aplauso unânime do júri que as considerou “concetualmente e esteticamente fortes”. A última conquistou, no entanto, o galardão da 1ª edição da prémio “Arte em Espaço Público & Sustentabilidade” por ser a que “melhor se adequou aos materiais e resíduos disponíveis no campus industrial do dstgroup e a mais exequível tecnicamente” decisão reforçada pela “solidez física da estrutura e o seu equilíbrio aerodinâmico”.

Refúgio é um espaço escultórico acessível, um abrigo na cidade que convida a imaginar modalidades alternativas do habitar e estar no mundo, abertas ao ambiente natural.  Trata-se de uma intervenção artística que  cruza as fronteiras da  escultura e da arquitetura e oferece ao público um lugar de encontro com a arte, convidando-o ainda ao recolhimento e à meditação, uma vez que reinterpreta a forma clássica do claustro com jardim interior, modelo recorrente na arquitetura sacra europeia com exemplos notáveis em Braga, nomeadamente os claustros da Sé e, em  particular, do Mosteiro de São Martinho de Tibães.

Para além de habitar de forma poética a cidade, é um lugar físico de pensamento utópico para imaginar um futuro urbano alternativo. “É uma obra de arte que proporciona leituras diversas que dependem de quem a olha e da forma como a sente como depende do que recorda e todos têm recordações diferentes”, revela José Teixeira, presidente do Conselho de Administração do dstgroup. “A mim, recorda-me a Gaiola de Faraday na exata medida em que o ‘Refúgio’ também pode ser uma barreira de proteção contra campos elétricos e magnéticos negativos, contra o mal, o feio e a mentira. Este ‘Refúgio’ é um abrigo contra a fealdade, é um lar zen onde se pode encontrar revelações sobre nós mesmos e descobrir como matar o medo aprendendo a ‘conversar’ com o 19”, sublinha.

Recorde-se que o prémio Arte Em Espaço Público &  Sustentabilidade, lançado no início de março, pouco antes de ser decretada a pandemia, assume hoje uma maior dimensão e expressão. “Se antes se justificava, agora é indispensável, por uma questão de sanidade, ter arte no espaço público e, superlativamente, obras de arte sustentável”, sublinha José Teixeira, citando ainda Robert Rieman para reforçar esse pensamento: “É precisamente porque a arte não ignora o demoníaco que conhece as profundezas da alma humana, que pode fornecer aos indivíduos revelações sobre eles mesmos que não se obtêm de qual quer outra maneira”.

Para lá da dimensão humana e social, o “Refúgio” de Lorenzo Bordonaro está concebido para ser também colonizado de forma imprevisível e sem intervenção humana por espécies da flora e da fauna endémicas locais. A estrutura proporciona uma troca com o ambiente externo, permitindo à luz natural, ao ar e a humidade filtrar parcialmente no espaço interior, oferecendo ao mesmo tempo um abrigo da chuva e do sol. De acordo com o artista, vencedor do prémio no valor de 7.500 euros, “Refúgio foi concebido em diálogo com o contexto de instalação, nomeadamente com a cidade de Braga e o seu património arquitetónico, e com os materiais inutilizados da Bysteel, escolhidos no campus industrial do dstgroup, pelo que a forma final da obra surge numa lógica de upcycling e sustentabilidade que adapta a ideia construtiva aos recursos disponíveis”.

A obra vencedora poderá ser vista e vivida num espaço público a definir pelo município de Braga, a partir do dia 3 de outubro de 2020, data prevista para a inauguração.

A primeira edição do prémio Arte em Espaço Público & Sustentabilidade recebeu 25 projetos, oriundos das mais diversas geografias entre as quais Brasil e Chile, passando ainda pelo Reino Unido, Alemanha, Itália ou Espanha. Após a fase inicial de seleção, os três finalistas tiveram a oportunidade de identificar os resíduos provenientes da construção e demolição de empreitadas, ou outros materiais, para utilizar na execução das respetivas obras de arte. Cada candidato recebeu  um apoio no valor de 500 euros para o desenvolvimento dos projetos. Além de assumir todos os custos de produção e implementação da obra de arte em espaço público, o dst group e a zet gallery atribuem ao vencedor um prémio de 7.500 euros e cedem a obra vencedora à cidade de Braga.

Arte em Espaço Público & Sustentabilidade é uma iniciativa inovadora em Portugal que se destina a afirmar um pensamento estratégico sobre a economia circular, a partir da criação artística contemporânea. Como referiu Helena Mendes Pereira, diretora e curadora da zet gallery, aquando do lançamento do prémio, “reflete os contributos do grupo para a afirmação da urgência da economia circular e, ainda, as suas preocupações com os espaços públicos onde a fruição da obra de arte é verdadeiramente democrática”.

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