
A tradição voltou a cumprir-se na freguesia de Sobreposta, em Braga, neste que é o ponto alto das Festas em Honra do Santíssimo Sacramento e Sagrado Coração de Jesus: o levantamento do arco.
Mais de cem pessoas mediram forças e ajudaram a transportar o arco, com mais de 26 metros e duas toneladas, até ao adro da Igreja Paroquial, onde foi erguido para cumprir esta tradição secular que conta já com 126 anos.

Elizabete Silva, presidente da Junta de Sobreposta, falou que esta tradição é “muito importante” para as gentes da freguesia. “Desde sempre, tanto os nascidos em Sobreposta como das freguesias vizinhas e os nossos emigrantes que chegam agora, juntam-se neste dia para transportar e levantar o arco. É uma tradição já muito longa e que nós fazemos questão de manter e de a tornar mais conhecida porque é única no Minho e penso que em Portugal também”, disse a presidente.

A autarca regozijou-se com o envolvimento da comunidade para manter esta tradição viva na freguesia. “Quando falamos em 100 pessoas para transportar o arco, se calhar até vão 200, claro que nem toda a gente consegue pegar na estrutura porque não há espaço. O arco é pesado, por isso quantas mais pessoas estiverem envolvidas melhor, mas certamente que as gentes de Sobreposta têm mesmo orgulho de transportar o arco da festa”, sustentou Elizabete Silva.

Em representação da Câmara Municipal de Braga esteve presente o vereador Altino Bessa que lembrou o projeto de promoção histórica, cultural e turística desta tradição, levado a cabo pelo Município e a CIM Cávado.

“Damos muita importância à festa do Santíssimo Sacramento. A Câmara Municipal de Braga e a CIM Cávado já realizaram um projeto para enaltecer e dar a conhecer a história e as tradições desta festividade, através de diversas ferramentas de comunicação. Há livros editados com a recolha de testemunho precisamente para criar esse espólio para não se perder. Foi um marco decisivo termos feito esse trabalho e optámos por fazê-lo nesta freguesia pela importância que isto tinha por ser uma iniciativa secular, muito marcante numa freguesia rural, um marco histórico que fica para as gerações futuras”, frisou Altino Bessa.

Por seu turno, o professor José Mota Alves, presidente da ATAHCA – Associação de Desenvolvimento Local, explicou que a tradição dos arcos existia em quase todas as freguesias associadas a festividades e que se manteve em Sobreposta.
“A tradição dos arcos era uma tradição de quase todas as freguesias associadas a festividades e era uma identidade de quase toda a população da própria freguesia e que Sobreposta quer manter. Em algumas das freguesias desapareceu completamente e é bom que esta tradição se mantenha porque é uma identidade de Sobreposta, necessária para esta freguesia porque dá-lhe vida em trazer pessoas de fora para conhecer os seus valores culturais”, referiu José Mota Alves.

Para ajudar a transportar o arco esteve também um grupo da Ilha Terceira, nos Açores, em virtude da Jornada Mundial da Juventude. “Viemos a convite da presidente da Junta de Sobreposta para a festa do Santíssimo Sacramento para carregar o famoso arco da freguesia. Acho que esta tradição é de se manter porque, acima de tudo, junta a comunidade em torno de uma festa que é o Santíssimo Sacramento. São coisas que se devem manter, principalmente com gente jovem, que devem seguir o exemplo dos mais velhos”, disse Lígia Gonçalves, representante do grupo de jovens da Ribeirinha dos Açores.

Ricardo Lages, responsável da construção do arco da Santíssimo Sacramento, falou que o processo de preparação do arco demorou cerca de dois meses. “Começámos há cerca de dois meses com a seleção de dois eucaliptos e trouxemos para este local, na Avenida da Imaculada Conceição. Posteriormente fomos buscar madeira mais fina e pequena para fazer o resto da estrutura. Faz hoje oito dias que começámos a construir o arco que tem 26 metros e meio e um peso de 2 toneladas e meia”, disse o responsável.

David Silva, juiz da Comissão de Festas do Santíssimo Sacramento, sustentou que a festa realiza-se em honra do Santíssimo Sacramento e do Coração de Jesus, mas que o auge é o transporte e o levantamento do arco. “É um orgulho enorme para a nossa população e acho que é um dos únicos em Portugal. Estas tradições, infelizmente, estão para acabar porque não há juventude que as sigam, mas acho que na nossa freguesia de Sobreposta ainda pegam nestas tradições. Somos uma freguesia unida”, finalizou o juiz.

O levantamento do arco contou também com a presença de Manuel da Costa, secretário da Junta de Freguesia de Sobreposta, e António Lima, tesoureiro. Da Câmara Municipal de Braga esteve ainda presente João Rodrigues, vereador, e João Medeiros, assessor nos pelouros da Educação e da Inovação e Coesão Social.

O arco festivo foi devidamente decorado com um cálice gigante para honrar o Sagrado Coração de Jesus. Esta tradição, única no concelho de Braga, une a comunidade às festividades da freguesia, sendo já uma atração turística em Sobreposta.
A reportagem teve o apoio à produção da Junta de Freguesia de Sobreposta