É agora que Braga exige uma visão macro e sustentável
Braga tem todo o potencial de um concelho que combina a sua rica herança histórica e cultural com um desenvolvimento e crescimento modernos e sustentáveis. No entanto, podemos afirmar que não conseguimos atingir esse potencial em pleno. O concelho sofreu nos últimos anos de uma falta de visão macro e de longo prazo. E isto que originou um crescimento sem as devidas respostas quanto a algumas das suas dimensões.
Habitar, mover-se, trabalhar e usufruir de lazer, são algumas prerrogativas que os cidadãos devem poder beneficiar.
Habitação numa Braga em crescimento: escassez e soluções possíveis
Braga tem experimentado um crescimento populacional, tendo atingido um máximo histórico de 201 583 habitantes. Este número representa um crescimento significativo em relação aos 193 333 residentes registados nos Censos de 2021. Acrescido a este facto, a população estudantil da Universidade do Minho também contribui ciclicamente com residentes temporários.
Pese embora a crise da habitação seja um problema de cariz nacional, o factor crescimento demográfico tem um grande contributo para a problemática identificada.
Assim sendo, impõe-se um programa macro, mas com visão local, dado a escassez e morosidade das soluções previstas pelo Estado central.
Podemos identificar algumas medidas integradas num programa orientado para a cidade:
- A abertura a parcerias público-privadas;
- A criação de benefícios fiscais para ampliação do parque habitacional a custos controlados;
- Ou ainda fomentar condições para a implementação de cooperativas de habitação.
Com toda a certeza, estas medidas permitiriam a apresentação de resultados diversificados e sempre ao encontro das várias necessidades do cidadão.
Mobilidade urbana em Braga em crescimento: caos ou oportunidade?
O concelho deve oferecer aos seus residentes, soluções de mobilidade que se coadunam com a sua dimensão. No entanto, o crescimento acima referido não foi acompanhado de soluções de mobilidade sustentadas. A criação de medidas avulsas apenas são um paliativo numa cidade onde as infra-estruturas viárias e rede de transporte se encontram em pressão, originando períodos de caos para as pessoas. Uma visão macro para o concelho foi neste ponto abissalmente esquecida, originando problemas largamente identificados e sentidos por todos nas suas vivências diárias. Um concelho em crescimento e com perspectiva de um crescimento ainda maior, deve ter uma estratégia viável e de longo prazo.
Pese embora o BRT apresentar-se como uma solução nunca antes implementada na cidade, este não deverá travar o investimento noutras formas de mobilidade. Por exemplo, uma rede de autocarros que sirva as freguesias vizinhas não abrangidas pelo BRT e a criação de novas ciclovias. Pelo contrário, todas estas vertentes de mobilidades, deverão ser pensadas em conjunto criando sinergias de recursos e esforços comuns com o objectivo de oferecer uma mobilidade adequada às necessidades de agora, mas também pensadas para a sua dimensão futura.
O tecido empresarial e a inovação numa Braga em crescimento
O tecido empresarial de Braga tem registado um aumento contínuo e profícuo. Segundo um estudo da Universidade do Minho as empresas associadas da Associação Empresarial de Braga foram responsáveis por um volume de negócios de 7,1 mil milhões no ano de 2022, o que representou nesse ano 3% do PIB Nacional. Embora os sectores de actividade sejam maioritariamente de comércio, turismo e serviços, não se deverá negligenciar o sector da indústria que também apresentou um franco crescimento. Mas para que este sector se possa desenvolver e atrair investimentos exteriores, é necessário que o concelho se apresenta como atractivo. Mas para isso não basta apenas disponibilizar terrenos. É necessária uma visão abrangente e diferenciada, que tenha como objectivo o de consolidar Braga como uma cidade inovadora e que possa apoiar tanto a indústria já existente como as start-ups tecnológicas na sua incubação e aceleração.
No que diz respeito às indústrias já criadas, é notório que os parques industriais de Braga tem apresentados problemas.
Acessos de má qualidade, espaço exteriores comuns degradados e falta de transportes públicos com horários alargados, são alguns dos problemas identificados. Assim sendo, um programa com foco em soluções para estes problemas, assim como torná-los ainda mais atractivos para investidores, colaboradores e visitantes é passível de se inserir numa visão global para a cidade.
Qualidade de vida e espaços verdes numa Braga em crescimento
Um concelho que queira oferecer aos seus habitantes qualidade de vida, deve repensar os seus espaços verdes e de lazer. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda pelo menos 9 m² de área verde por habitante. Para um concelho como Braga com cerca de 200.000 habitantes, a área recomendada seria no mínimo de 1,8 milhão de m², ou seja, 180 hectares de áreas verdes.
O novo PDM de Braga, prevê os seguintes números: Parque Urbano da Quinta dos Lagos: 11,5 hectares, Parque Urbano da Arcela: 3,91 hectares, Parque urbano de S. Martinho: 50 hectares, Parque Urbano de Lomar (Parque ecológico do Rio Este): 11 hectares, Parque das Setes Fontes: 30 hectares. O somatório de todas estas área é de 106, 41 hectares. Se a esta área adicionamos a área do Parque do Bom Jesus (26 hectares), obtemos 132, 41 hectares.
É possível concluir então, que mesmo que surgissem os parques previstos de um dia para o outro, o concelho continuaria em défice de espaços verdes de dimensão relevantes para as recomendações acima citadas. Ora, isso denota uma falta de visão de longo prazo que o cidadão sente neste momento e que só será recuperado ao longo de anos.
Planeamento estratégico: como Braga pode alcançar o seu potencial
Os desafios ambientais, regionais e urbanos em Braga são complexos e interligados. No entanto, com um planeamento estratégico e a implementação de soluções adequadas, vamos conseguir mitigar muitos dos problemas identificados e promover um desenvolvimento sustentável e equilibrado na cidade.
A falta de planeamento a longo prazo e de uma visão macro da cidade e do concelho, dando ao invés prioridade a medidas avulsas e com efeitos esbatidos na vida dos cidadãos é um preço alto a pagar para um concelho tão importante na sua região.
Pese embora o novo PDM tenha uma visão diferenciada e com objectivos que vão ao encontro das necessidades sentidas no concelho, haverá sempre um tempo irrecuperável entre o concelho que temos e o concelho.
Artigo de Virgínia Ferreira, membro da Iniciativa Liberal