Uma equipa liderada por Ricardo Franco-Duarte, da Universidade do Minho, encontrou uma nova espécie de levedura em uvas nos Açores, com potencial para a produção de biomassa e lípidos. O trabalho acaba de sair no conceituado “International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology” e envolve cientistas das universidades dos Açores, Minho e Liubliana (Eslovénia) e do Centro Laimburg (Itália).
A levedura é um microrganismo essencial, por exemplo, na produção de vinho, pão e cerveja. O alimento (substrato) favorito da levedura é normalmente a glucose, mas é dispendiosa. Por isso, tem-se procurado substratos alternativos e mais acessíveis, como o amido, que tem várias moléculas de glucose e surge no arroz, batata e trigo, entre outros. A levedura agora descoberta, Clavispora santaluciae, destaca-se precisamente por ter enzimas que degradam o amido, ou seja, pode ter muito potencial comercial.
Ricardo Franco-Duarte, do Centro de Biologia Molecular Ambiental (CBMA) da UMinho, explica que a nova levedura, além de alargar o conhecimento da biodiversidade vínica, “abre perspetivas para potenciais aplicações na produção de compostos de valor acrescentado, como biomassa e lípidos”. A produção de substâncias de interesse industrial a partir de resíduos agroindustriais, por exemplo, é uma opção relevante, ao reduzir impactos ambientais e ao acrescentar valor aos resíduos. “Espero que esta investigação aumente a perceção do potencial de novos isolados de leveduras a nível biotecnológico, como alternativa à utilização de leveduras convencionais”, frisa.
O estudo foi realizado em 33 locais de sete ilhas do arquipélago dos Açores, tendo sido recolhidas 105 amostras de uvas e identificadas 28 espécies de leveduras. A nova espécie, Clavispora santaluciae, deve o nome à quinta de Santa Luzia, situada na baía de São Lourenço, na ilha de Santa Maria. A investigação contou com fundos do Compete 2020, através do FEDER e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.