Uma teia de arte, de identidade e de inovação preenche, por estes dias, o centro urbano de Famalicão, numa instalação artística da autoria de Madalena Martins que recria o processo têxtil desde a transformação do algodão em fio e deste em tecido.
Os troncos das árvores centenárias dos jardins dos Paços do Concelho servem de suporte ao algodão, a matéria prima que dá origem aos fios brancos que partem das copas das árvores. A partir dali os fios encontram-se, cruzam-se e criam uma teia. Ancorados em pontos que a rua nos oferece, moldam-se à sua arquitetura, criando assim um desenho irregular mas coeso, leve mas seguro pela força da sua pluralidade.
A primeira imagem da Rua Adriano Pinto Basto, para onde segue a instalação, é a recriação da tecelagem. No ar, são perfeitamente detetáveis imagens que sugerem os teares que trabalham os fios. A determinada altura, a linha branca tinge-se de vermelho numa referência ao processo de tinturaria têxtil.
A partir do icónico edifício de Famalicão da Íris, uma cor vibrante e quente sustenta um novo fio que rompe o percurso de forma livre e criativa, carregado de luz e energia própria. Avança no mesmo sentido, mas com a curiosidade própria de quem procura novos caminhos.
Toda esta trama prolonga-se pela Praça D. Maria II até às mãos da estátua de D. Maria II, a fundadora do concelho, que recebe os fios e os transforma em tecido tricotando a sua própria saia. A instalação Fio Condutor foi inaugurada no passado dia 9 de julho, Dia da Cidade, e pode ser visitada até outubro.
Para a construção da instalação foram reutilizados desperdícios da Riopele, parceira da iniciativa, nomeadamente as aparas de final da produção de um tecido, a chamada “Ourela falsa de tear”. Da histórica empresa têxtil saíram quase três toneladas destes resíduos transformados em matéria prima da exposição, numa referência à importância da sustentabilidade ambiental e ao processo da economia circular.
Recorde-se que Famalicão ostenta a marca Cidade Têxtil de Portugal, sendo o concelho, há mais de um século, um importante centro de produção, investigação e desenvolvimento do setor. A instalação é uma homenagem a esta força empreendedora de Famalicão, território a quem foi atribuído recentemente a chancela de Região Europeia Empreendedora 2024, pelo Comité Europeu das Regiões.