Uma dissertação de mestrado na Escola de Arquitetura, Arte e Design da UMinho recriou a muralha medieval de Guimarães por fotomontagem, “colocando-a” na atual paisagem urbana. A estrutura defensiva volta a passar por zonas emblemáticas como as Portas da Vila e os Palheiros, num reimaginar urbanístico de Luís Leite.
“O espaço urbano modifica-se através de constantes transformações e adaptações a novas formas de viver, por isso, a partir de referências imagéticas comuns a quem conhece a cidade, decidi criar composições fotográficas onde a muralha exerce um domínio visual forte”, explica Luís Leite. Na sua série fotográfica “O restauro da Muralha”, vê-se, por exemplo, estradas e casas intercetadas pela muralha, originando lugares desconcertantes”, acrescenta. O autor nota que não se pretende um apelo à reconstrução da muralha, mas antes uma reflexão sobre este utópico confronto.
O arquiteto e fotógrafo, de 27 anos, evocou também diversos espaços da cidade-berço, aliando memórias com elementos contemporâneos. Para tal, recorreu às primeiras imagens da cidade, mais especificamente à Coleção de Fotografia da Muralha – Associação de Guimarães para a Defesa do Património. Num ensaio de refotografia e sobreposição, o resultado “induz à espontânea construção de uma narrativa sobre as mudanças do próprio espaço no tempo.”
A muralha erigida nos séculos XII-XIII protegeu o burgo de vários cercos e incluía oito portas, seis torres e dois torrilhões. No século XIX, boa parte das suas pedras de granito foi usada para a construção de edifícios públicos e privados e de vias rodoviárias. Alguns panos da muralha persistem, como na antiga Torre da Alfândega (com a inscrição Aqui nasceu Portugal e onde decorrem obras de requalificação) e nos 250 metros desde a Avenida Alberto Sampaio ao Largo da Mumadona, que possui até um percurso pedonal no interior, sobre o adarve da muralha, permitindo, num olhar superior sobre a envolvente, avistar ex-libris como o Castelo, o Paço dos Duques e o Santuário da Penha.
A presença de fragmentos da muralha na malha urbana, assim como de outros muros, levou Luís Leite a estudar igualmente na dissertação a ideia alargada de “muro”, neste caso, como elemento ativo na especulação de diferentes cenários urbanos. Desde instalações de land art, barreiras temporárias ou fronteiras políticas, o trabalho aborda o conceito de limite, fazendo incursões a cenários de países como EUA, França, Chipre e Israel.