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Investigadora de Braga é a primeira portuguesa a dar nome a grupo de vírus

 

Joana Azeredo, da Escola de Engenharia da Universidade do Minho (EEUM), vai ser ser a primeira investigadora portuguesa com o seu apelido associado a um vírus. Em concreto, à subfamília Azeredovirinae. Aí se incluem vírus “bons” que, por exemplo, atacam bactérias patogénicas para os humanos.

É apenas a quarta vez que esta homenagem mundial é feita a uma mulher e, curiosamente, não é no final da sua carreira ou a título póstumo, como usualmente acontece. A nomeação de Joana Azeredo foi agora anunciada pelo presidente do Subcomité de Vírus de Bactérias e Arqueas do Comité Internacional de Taxonomia de Vírus, Andrew Kropinski. A aprovação, habitualmente consensual, deve ocorrer na próxima assembleia do organismo, em 2021.

“Este é o reconhecimento do trabalho da nossa equipa de investigação e da própria UMinho no âmbito da descoberta e caraterização de vírus que infetam bactérias. Ainda me sinto um pouco sob o efeito da surpresa e da satisfação por obter esta nomeação e, de agora em diante, eu e a minha equipa sentimo-nos ainda mais motivados para a investigação, que é um desafio diário que aceitamos com gosto e entusiamo”, diz Joana Azeredo.

A professora da EEUM e investigadora do Centro de Engenharia Biológica (CEB) admite que ter a nomeação por causa de um vírus “é irónico” nesta altura. “No entanto, apraz-me que o meu nome de família seja atribuído a uma subfamília de um vírus ‘bom’ numa ocasião em que a humanidade se debate com uma pandemia causada por um vírus “mau”, o SARS-CoV-2″, refere.

Atualmente há 43 subfamílias de vírus bacterianos (também chamados bacteriófagos ou fagos) e só 14 delas foram nomeadas em tributo a cientistas. O critério de demarcação é diferir pelo menos 5% do ADN das outras espécies da família. No caso da Azeredovirinae, inclui vírus que infetam e matam bactérias do género Estafilococos, causadores de doenças nos humanos. Estes vírus têm um grande interesse terapêutico e podem ser usados no controlo de doenças infeciosas através da chamada terapia fágica.

Banco de vírus para combater bactérias multirresistentes

A equipa de Joana Azeredo destacou-se recentemente ao criar um “banco de vírus” para tratar doenças provocadas por bactérias resistentes a antibióticos, um dos maiores problemas de saúde mundial, quer para doenças crónicas, infeções hospitalares ou infeções respiratórias, da pele e dos sistemas nervoso, digestivo e urinário. A fórmula inicial até é simples – vírus mata bactéria e evita a doença -, mas chegar aí exige muitos anos para isolar os vírus, modificar-lhes o genoma, caraterizá-los e depois provar que são seguros e eficazes. Os cientistas da UMinho estão a construir os primeiros fagos sintéticos e a avançar para testes laboratoriais em animais. A terapia fágica já é usada em pacientes de vários países da Europa e vista como alternativa de tratamento, sobretudo em casos muito graves, incuráveis ou com risco de vida.

Biografia

Joana Azeredo nasceu no distrito do Porto, em 1971 e vive em Braga. Licenciou-se em Engenharia Biológica e doutorou-se em Engenharia Química e Biológica pela UMinho, onde é professora associada com agregação e coordena o grupo de Ciência e Engenharia de Biofilmes do CEB. Centra a investigação em soluções biotecnológicas para controlar infeções bacterianas. Tem tido um forte contributo na terapia fágica, colaborando com a Universidade Católica da Lovaina (Bélgica), o MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA) e as universidades de Groningen e Wageningen (Holanda), entre outras. Cofundou a International Society of Viruses of Microbes e participa na organização de conferências e cursos internacionais. Coordenou dois projetos de investigação europeus e sete nacionais, cofundou a spin-off Inception e supervisionou 15 doutoramentos. É editora do “Virology Journal” e coautora de quatro patentes, três livros e mais de 150 artigos em revistas internacionais.

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